A protoditadura fascistóide bate a nossa porta
“Primeiro os nazistas vieram buscar os comunistas, mas como eu não era comunista, me calei. Depois vieram buscar os judeus, como eu não era judeu, não protestei. Então vieram e levaram os católicos e, como eu também não era católico, nada falei. Por fim quando eles vieram me buscar, já não restava ninguém para protestar.” (Martin Niemöller – Teólogo Luterano, 1892/1984. Erroneamente, por vezes, esta citação é atribuída à outros autores, como Bertold Brecht ou Maiakóvski. Também existem versões diferentes, isto ocorre porque o autor usou a citação em ocasiões variadas e, muitas vezes, de improviso.)
A citação acima é bastante conhecida e, infelizmente, retrata um pouco a minha acomodação dos últimos anos com a situação política brasileira. Mas nem sempre fui assim. Durante a maior parte da minha vida fui mais combativo, defensor das causas sociais, contra a discriminação, às injustiças e à exploração sofrida pela maioria da população do nosso país e perpetrada por esta parasitária elite brasileira que apregoa ser produtiva, mas vive mais de sonegar impostos, obter empréstimos vantajosos junto aos bancos públicos para torrar tudo em viagens e luxo ao invés de investir nos negócios e, depois, quando chega uma crise, reclamar com o governo até conseguirem os famosos refinanciamentos de dívidas e impostos devidos, ganhando prazos quase centenários para quitá-los como se isso fosse uma prática normal. Apesar disso, confesso que alguns governos de esquerda, nos últimos anos, me decepcionaram por suas práticas e eu abandonei o debate político e a luta por um mundo mais justo e me acomodei, iludido, acreditando ser possível viver uma existência pequeno burguesa simples, medíocre, calma e segura.
Porém, como escreveu Maquiavel, uma guerra não se evita, protela-se, fui, nos últimos dias atropelado por um turbilhão de acontecimentos surreais que me fizeram rever minha decisão de não mais me meter em assuntos e discussões políticas. Acontece que na minha cidade determinado empresário, financiador das acomodações e do funcionamento dos partidos bolsonaristas (anteriormente o PSL e, agora, o tal de Aliança pelo Brasil) resolveu acusar minha irmã de ser uma psicopata que vive mandando ameaças pelas redes sociais contra o “ilustre” cidadão e atacando sua honra, como se ele fosse uma singela e frágil donzela e minha irmã um poderoso e perigoso gangster cruel. As provas de acusação? Apenas perfis falsos que qualquer um pode criar usando fotos e o nome de terceiros disponíveis na internet. Mas como o supracitado cidadão é o financiador do partido e, provavelmente, também contribuirá para o caixa dois em futuras campanhas, alguns agentes públicos interessados em se lançarem candidatos e usando de seus cargos e influência, forjaram um inquérito que se transformou em espetáculo dantesco de perseguições, ameaças, intimações, campanas em frente da nossa casa, busca e apreensão de objetos e, por fim, mesmo sem conseguir provas concretas e plausíveis, se transforma em um processo judicial. O mais estranho de tudo é que integrantes da família do dito empresário ameaçam minha irmã publicamente e usando suas redes sociais, mas, quanto a isto, os órgãos competentes nada podem fazer e até negam-se a registrar ocorrência. Estamos cada vez mais acossados e assustados com tamanha truculência, arrogância e prepotência de agentes que deveriam cumprir a lei e proteger os cidadãos, mas, como sempre, o que vale no Brasil é o famoso ditado: “aos amigos tudo, aos inimigos, os rigores da lei”.
Contada, resumidamente a minha história, fica uma das lições mais importantes que já tive na vida, a de que não devemos nunca nos esconder, nos calar, nos acomodar com as migalhas jogadas pela elite parasitária e, muito menos, nos acovardar frente às ameaças e até prisões arbitrárias, pois parafraseando a citação do início do texto, hoje são os outros, amanhã poderá ser nós.
Max Gräff