Na última postagem, teci algumas críticas básicas às
políticas educacionais do governo Bolsonaro introduzidas no país nos últimos
meses. Realmente o panorama da educação tem merecido atenção redobrada nos últimos
dias, visto ter se tornado alvo de medidas que demonstram total falta de
conhecimento e experiência sobre o tema e até mesmo um certo desdém com algo
que é tão importante para o futuro da nação. Mas não basta criticar o desmonte
provocado por Bolsonaro e sua trupe de olavistas tresloucados, é preciso buscar
mais longe os problemas da educação no Brasil, pois, certamente, esta onda de
ignorância e pseudociência que toma conta do país não é gratuita e tem suas
raízes fincadas no solo fértil da falta de uma educação de qualidade a nível
nacional e o motivo desta baixa qualidade é que vamos tentar compreender um
pouco neste texto.
As considerações que exponho neste artigo são reflexões
advindas da minha experiência de quase uma década como professor na educação
básica e em colégios públicos no estado do Rio Grande do Sul. Não são
simplesmente “achismos”, são conclusões próprias, baseadas na experiência
prática e também teórica, de quem, como quase todos os professores, fez
graduação, buscou conhecimentos para aprimorar suas aulas e se fazer entender
pelos educandos e também participou de cursos de aperfeiçoamento e debates com
os colegas de profissão para trocar conhecimentos e experiências buscando
sempre ser um professor melhor. Enfim, posso estar errado ou precipitado, mas
são as minhas conclusões. Em primeiro lugar, eu vejo como um dos maiores entraves
para uma melhoria significativa da nossa educação, o fato de que a maioria da
sociedade brasileira pouco ou nada valoriza a escola, o conhecimento e o saber.
O professor é visto em grande parte como um “coitado” que ganha pouco e tem de
ouvir desaforo do governo, das secretarias de educação, da direção do colégio,
do setor pedagógico, dos alunos, dos pais dos alunos, enfim, de quase todo
mundo, o que torna a profissão desvalorizada e pouco atrativa. Poucos querem
segui-la no país e os que o fazem são na maioria idealistas que, infelizmente,
pouco poderão fazer frente ao desânimo geral da categoria. Aliado a isso, temos
ainda os pais e a comunidade geral que pouco demonstra apreço pela escola ou
por suas atividades, o que se evidencia na baixíssima participação em reuniões
promovidas pelos colégios para debater problemas típicos do ambiente escolar, o
que pode ser traduzido da seguinte maneira, se tem reunião no colégio, e os
pais ficam em casa vendo televisão ou desempenhando outras atividades menos importantes,
que recado estão passando aos filhos? Simples, o de que a escola não tem importância,
de que ela é apenas um obstáculo chato a ser superado com muito esforço e
sacrifício. Para finalizar, pais ou responsáveis raramente se ocupam, ajudam ou
participam da aquisição do conhecimento dos educandos, o que se aprende em sala
de aula pouco importa para os responsáveis que, muitas vezes, também não tem o
conhecimento necessário para participar deste aspecto educacional. E, por fim,
a máxima brasileira, aluno bom é visto como otário e bajulador, sendo muitas
vezes vítima de bullying por parte dos colegas.
Outro aspecto bastante sensível é a questão das teorias
pedagógicas vigentes no país, sempre muito melindrosas, pois qualquer crítica
ou questionamento sobre sua eficácia é rapidamente repudiada pelo mundo
acadêmico pedagógico que mais parece ter criado uma religião com seus cânones infalíveis
do que uma verdadeira ciência que cria teorias e as põe em prática para auferir
os resultados. Na pedagogia brasileira os resultados são um detalhe
insignificante, o que importa mesmo é ficar insistindo em teorias que muitas
vezes nunca foram testadas e se foram, mostraram-se ineficazes. Mudar para que?
O importante mesmo é fazer como as religiões, mesmo contrariando toda a realidade
em volta, o que tem verdadeiro valor são os mantras repetidos desde muito
tempo. O principal problema desta pedagogia é transformar o aluno em uma eterna
vítima, onde tudo conspira para que ele seja um fracassado e a solução disso é
a escola ser totalmente complacente e benevolente com o educando: Não consegui
entregar o trabalho? Dilata-se a data de entrega. Foi mal na prova? Fazem-se
mais duas ou três recuperações, sempre baixando o nível do conteúdo exigido.
Não presta atenção na aula, mantém conversas paralelas e discute com o
professor? Culpa do mestre, que não sabe dar uma aula criativa que prenda a
atenção do aluno. E assim seguem-se muitos e muitos outros aspectos que mais
atrapalham do que realmente ajudam o aluno na sua jornada escolar.
Bem, como o assunto é longo e demanda bastante atenção
por ser tema sensível a todos nós, vou encerrar esta postagem por aqui e
continuarei no próximo artigo a elencar todos os grandes problemas da educação
brasileira conforme a minha experiência e também de acordo com resultados de
todos os testes, provas e desafios a que os estudantes brasileiros são
submetidos, onde, invariavelmente, para nossa vergonha, sempre ocupam as
últimas colocações em nível internacional, o que por si só já diz muito sobre o
fracasso das teorias pedagógicas no Brasil.
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