Ensino Médio
Politécnico
A Educação como
Ferramenta Eleitoral
Ser professor de escola pública pode
ser muito frustrante. Não estou falando das difíceis condições da educação
pública, como escolas com pouca infraestrutura, os baixos salários dos professores
ou o pouco interesse da sociedade em geral – e dos alunos em particular – pelo
conhecimento. Refiro-me a algo bem mais sério e perigoso para o desenvolvimento
do Brasil como nação economicamente forte e tecnologicamente preparada. Minha
preocupação vai para as “extravagantes”, quase sempre utópicas e megalomaníacas, políticas públicas para a educação básica do país.
Antes de entrar na questão em si,
cabe salientar alguns pontos marcantes da pedagogia brasileira e o principal
deles, a saber - a culpabilidade do professorado nacional. Não se pode falar em
pedagogia sem antes falar disso. Para você ser um bom pedagogo, para que possa
ser aceito nos meios acadêmicos educacionais, para que possa ser ouvido de
forma razoável em algum encontro sobre educação, você precisa antes de qualquer
coisa frisar o “óbvio” da educação nacional: a incompetência, a incapacidade, a
falta de vontade, a preguiça, o comodismo, a falta de preparo e, por que não
dizer, a burrice do professor nacional. Para qualquer corrente pedagógica, em
qualquer política pública sobre educação, sempre, invariavelmente, a culpa
pelos baixos resultados dos estudantes é de apenas um elemento – o professor.
Resumindo, o fracasso escolar, a evasão e a repetência, ocorrem porque o
professor usa pressupostos pedagógicos antiquados, não sabe dar uma aula
“criativa” (vou escrever sobre “aula criativa” em outro post) e não tem vontade de se atualizar. Nós, professores, nem
sempre concordamos com isso, o que comprova que além de incompetentes, também
somos teimosos. Bem, agora que estamos inteirados dos motivos que levam ao
fracasso escolar no Brasil, vamos à mais nova e milagrosa política pública
educacional que esta sendo implantada nas escolas estaduais do Rio Grande do
Sul, o Ensino Médio Politécnico.
A princípio cheguei a acreditar que esta
mudança pudesse ser positiva, mas quanto mais me informo sobre a proposta, mais
percebo o quanto ela é vazia, inconsistente, contraditória, redundante e
eleitoreira, servindo apenas de propaganda, para que, nas próximas eleições o
governo possa dizer “nós implantamos uma mudança radical na qualificação da
educação estadual”. Claro, não se comentará nada sobre a nulidade da mudança e,
caso isso seja lembrado por algum opositor inconveniente, já sabemos a resposta
do governo: a culpa foi do professor que resistiu e não levou a sério as
mudanças, acomodado com suas aulinhas preparadas desde o dia em que se formou. A
proposta em termos práticos é bastante simples, teremos, no primeiro ano do
Ensino Médio, 20% mais aulas, que corresponderão ao desenvolvimento de
pesquisas centradas em um “eixo temático” escolhido e determinado pela própria
escola. Até aqui, tudo ótimo. Seguindo as determinações do plano pedagógico, a
escola e os professores devem ter como foco a interdisciplinaridade e a
realidade social do educando que, aliadas às pesquisas, devem fazer com que o
educando consiga encontrar sentido para os conteúdos estudados em sala de aula.
Nenhuma novidade, desde que sou professor, esta é a meta da educação – explorar
a realidade socioeconômica do aluno e buscar um sentido prático para os
conteúdos ensinados em aula, entre outras maneiras, através da pesquisa. Ainda
de acordo com folheto da Secretaria de Educação (Contribuição para o debate
sobre os fundamentos teóricos do Ensino Médio Politécnico – Pedagógico 2ª CRE) podemos ler que “fica evidente a
importância da articulação entre as áreas do conhecimento com as dimensões da
ciência, cultura, tecnologia e, sobretudo, do trabalho. (...)” esta última
parte eu gostaria de frisar: e, sobre tudo, do trabalho.
Esta última citação, em minha opinião, seria
o diferencial do ensino politécnico, uma pesquisa voltada para a formação profissional
do aluno. Claro que não nos moldes do técnico, mas que envolvesse alguma
atividade prática neste sentido, para que o aluno vivenciasse o mundo
profissional que lhe espera, ou que facilitasse a sua escolha profissional. Infelizmente
não! Não é esta a milagrosa proposta
pedagógica do governo. Os eternos burocratas, outra vez, ficaram apenas no
mundo da utópica teoria, onde falam em mostrar para o aluno a realidade social
que o cerca, de como o trabalho capitalista que foca apenas no lucro é
pernicioso e prejudicial à sociedade, ao meio ambiente e como seria bonito se
todos vivêssemos em um mundo solidário, de pessoas socialmente conscientes e
desligadas do materialismo entre muitas outras frases feitas e politicamente
corretas. Sem querer estragar o prazer dos românticos e sonhadores, tenho uma
questão a levantar: será que isso é possível? Será que podemos brincar com o
futuro de milhares de adolescentes que serão o futuro do Brasil dessa forma?
Colocando sonhos impraticáveis em suas mentes e seus corações, para que depois
de adultos, vejam quanta besteira lhes foi dita na escola, ao invés desta lhes
preparar para o futuro.
Bem fica aqui meu desabafo e minha
opinião sobre o Ensino Médio Politécnico, uma perigosa política pública, que
brinca com a vida de milhares de rio-grandenses, como se fossem cobaias prontas
para receberem ensinamentos estapafúrdios, fraseologias esquerdistas tiradas das
cartilhas partidárias das décadas de 1960, 70 e 80, que falam de um mundo
melhor, mais justo, mas que não apontam caminhos práticos; que ficam ruminando
teorias impossíveis de serem aplicadas e esquecem do mais importante, que a
escola ainda é um lugar de conhecimento. Sim, o aluno deve conhecer a realidade
social que o cerca, a escola deve debater uma alternativa melhor para o mundo,
onde não impere o consumismo e o lucro desenfreados, onde sejam ensinados
conceitos éticos e morais de justiça e igualdade, mas onde, também, se prepare
o aluno para a vida profissional de uma maneira séria, com conteúdos que
embasem o conhecimento técnico necessário para o mundo do trabalho e, acima de
tudo, com recursos financeiros e aporte tecnológico que permita aos professores
realmente aproximar o educando das práticas profissionais, que possibilitem a
ele uma escolha profissional pensada e testada desde o ensino médio, afinal,
profissão é coisa séria, acompanha a pessoa por toda a vida e se não for
agradável, torna-se um fardo difícil de carregar.
Max Gräff - Professor da rede estadual do RS.
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