A Epopeia de
Gilgamesh
Coletânea de lendas, histórias e
mitos, em forma de poema, atribuída aos sumérios, um dos primeiros povos a
organizarem-se socialmente e a formarem o que chamamos de civilização, na
região da Mesopotâmia, atual Iraque. Atribui-se também aos sumérios a invenção
da escrita, muito embora a escrita tenha surgido, conforme os últimos estudos,
simultaneamente em várias regiões do mundo.
De qualquer forma, foram os sumérios
os primeiros a desenvolverem de forma mais organizada a escrita e a deixarem um
bom número de exemplos para a posterioridade em seus tabletes de argila
escritos em sua forma cuneiforme.
A Epopeia de Gilgamesh, uma das
obras mais antigas da literatura mundial, conta a história do próprio Gilgamesh
sua relação com Enkidu e suas aventuras pelo mundo dos humanos e dos deuses.
Algumas das histórias desta epopéia influenciaram posteriormente na escrita da Bíblia.
Abaixo um ótimo texto, com a Epopeia
de Gilgamesh de forma resumida.
1 - Gilgamesh
Os homens e mulheres da cidade de Uruk,
na antiga Mesopotâmia, local banhado por dois rios caudalosos que diminuíam a
fértil e formosa terra onde se encontrava o Paraíso Terrestre, admiravam o seu
jovem rei Gilgamesh; mas também o temiam, pois, em ocasiões, governava com soberba
e arrogância. Passava o tempo e os cidadãos de Uruk estavam cada dia mais tristes
porque notavam que Gilgamesh, o rei de formas perfeitas - já que possuía três partes
de deus e uma de humano - ditava continuamente leis e sentenças injustas, distantes
da misericórdia e da compaixão exigidas a um governante para com seus súditos.
Era tanta a crueldade de Gilgamesh que
os deuses escutaram as súplicas dos homens e das mulheres de Uruk e se
retiraram a suas sagradas moradas para meditar... Em silêncio, os deuses refletiram
e maquinaram dia e noite...
Até que, por fim, decidiram que Aruru, a
deusa-mãe que tinha criado Gilgamesh, encontrara também a forma de ajudar os
humanos.
Assim, pois, Aruru pôs mãos à obra e,
tal qual sábio e aplicado oleiro, preparou a lama e modelou uma figura humana.
Logo, sem desperdiçar nem um momento, a criativa deusa soprou a argila e no
mesmo instante a figura que acabara de criar tomou vida e movimento.
Aruru, satisfeita com sua obra,
retirou-se para descansar; mas antes impôs suas divinas mãos sobre a cabeça,
coberta de encaracolados e longos cabelos, daquele novo homem que tinha a sua frente
e com voz de trovão, lhe falou: “Te chamarás Enkidu... Serás um grande
guerreiro e um herói de valor... e enfrentarás o jovem rei Gilgamesh para
obrigá-lo a tratar o seu povo com respeito”.
2 - Os Gritos do
Caçador
Passou o tempo e certo dia um caçador em
vigília junto às águas do lago, na clareira de um bosque, para espreitar as
gazelas que ali acudiam a beber, avistou Enkidu. Num primeiro instante, ao ver
sua vestimenta o tomou por um pastor. Mas com o tempo, ao observar que aquele
forasteiro protegia os animais, tirava as armadilhas e os impediam de serem
enganados, o caçador constatou que não se tratava de um simples pastor. Cada
vez que o caçador se aproximava do lago encontrava suas margens ocupadas pelo
rebanho do estranho pastor, de maneira que resultava impossível abater alguma
presa.
O caçador retornou a sua casa de mãos
vazias e quando seu pai lhe perguntou o motivo porque não tinha conseguido
nenhuma caça, este lhe respondeu que tinha sido impedido por um homem de aspecto
robusto que pastoreava seus rebanhos no monte e que não se afastava da ribeira
do lago. E complementou: “Mesmo levando samarra como os pastores, seus fortes e
musculosos braços denotavam ser ele um cavaleiro, ou um guerreiro, a serviço dos
deuses”.
Então, o pai do caçador ordenou a seu
filho que fosse até o palácio real e gritasse com todas as suas forças pedindo
ajuda a Gilgamesh, para que este ficasse sabendo da presença de um guerreiro valente
nas suas terras. Assim fez o caçador e seus gritos de advertência se escutaram
em toda a cidade de Uruk.
3 - O Abraço de
Enkidu e Gilgamesh
Depois de seis dias e sete noites de
prazer junto a uma jovem cortesã que, por conselho de Gilgamesh, o caçador pôs
em seu caminho para debilitá-lo e minar suas forças, Enkidu partiu para o
palácio de Gilgamesh. Enkidu abandonou os bosques e, guiado pela sua formosa companheira,
transpassou a muralha da cidade de Uruk e desafiou Gilgamesh.
Os dois heróis lutaram na praça, na
frente do povo. Ambos eram jovens e fortes, valentes e atrevidos. Enrolaram-se
pelo chão, destruindo na luta as grandes portas da cidade. As lascas saltavam pelos
ares até que, após uma longa peleja, a ira dos dois contendores se
aplacou. Parou a violência e o amor se
apossou de seus corações, a amizade se apoderou da vontade de ambos. Fizeram-se
amigos e se abraçaram. Todo o povo celebrou o abraço de Enkidu e Gilgamesh... E
houve festas e convivas na cidade de Uruk.
4 - O Bosque dos
Cedros
Mas, os amigos deixaram para trás o
bulício e o regozijo do povo e saíram para cumprir uma perigosa missão. Dirigiram-se
para o Bosque dos Cedros para matar o temível monstro Humbaba, uma espantosa
criatura que cuspia fogo pela boca e tinha atemorizados todos os habitantes da
comarca.
Gilgamesh e Enkidu entraram sem temor no
interior do bosque e chegaram até a obscura gruta do dragão. Então, lutaram com
bravura e cortaram a cabeça da fera... E foram recepcionados pelos habitantes
das aldeias que rodeiam o bosque, porém Gilgamesh e Enkidu seguem seu caminho.
5 - Lágrimas de
Dor
Depois de viverem juntos muitas
aventuras sentem saudades de suas terras e seus bosques e da cidade amuralhada
de Uruk, e decidem regressar para os seus. Durante suas ausências o povo tinha
sabido das façanhas e da fama de Gilgamesh e Enkidu e os recebem como heróis.
Isthar, a deusa do amor, deseja que
Gilgamesh seja seu amante e que se case com ela, mas o valioso e bonito
guerreiro a recusa. A despeitada deusa pede ajuda a seu pai, o deus Anu, dono e
senhor de todos os mundos e lhe instiga para que envie o Touro do Céu contra a
cidade de Uruk. Enkidu e Gilgamesh lutam
com o Touro do Céu e o matam. Mas, os deuses se vingam e fazem com que Enkidu
contraia uma grave enfermidade e morra. Gilgamesh verte lágrimas de dor diante
do cadáver do seu amigo Enkidu e com grande pesar e desconsolo pela perda de
seu querido companheiro abandona Uruk e empreende um longo caminho.
6 - O Enigma da
Morte
Depois de andar léguas e léguas,
Gilgamesh chega ao pé de altas montanhas, cujos cumes gêmeos voltam-se para o
primeiro e para o último dos extremos do mundo: o nascente e o poente.
Gilgamesh sobe até os altos picos e, uma vez lá em cima, olha o imenso céu e se
pergunta pelo enigma da morte... Mas ninguém responde.
Então, decide descer ao mundo das
sombras e roga aos guardiões, às gigantescas e horríveis criaturas, metade
escorpião metade homem, que abram as portas da montanha e lhe deixem passar. O
valente Gilgamesh caminha sem descanso pelo interior dos infernos na mais completa
obscuridade até chegar à morada dos deuses, ao jardim de luz. Aqui também não encontra
a resposta ao enigma da morte, mas os deuses lhe anunciam que resolverá o
mistério se cruzar até a outra margem do extenso oceano.
O barqueiro dos deuses conduz Gilgamesh
pelos mares e oceanos do mundo até chegar às pestilentas águas da morte e após
atravessá-las, o herói chega num lugar onde se encontra o único homem
sobrevivente do dilúvio, quem lhe instrui a respeito da vida e da morte: “Não deveis
temer a morte, pois, como o sonho, está dentro de nós e a todos alcança; mas,
podeis conseguir a imortalidade ou a eterna juventude, se arrancares a planta
espinhosa e florida, semelhante a um roseiral, que cresce entre o lodo das
águas profundas que banham o mundo das sombras”.
Assim fez Gilgamesh e de regresso à
Uruk, levando consigo a preciosa planta florida da eterna juventude, parou no
caminho para beber água num manancial e refrescar todo seu corpo. Mas, de
pronto, uma serpente cheirou o perfume que exalava da planta e a tragou; depois
se arrastou até as cavidades das rochas e se enfiou num fundo e obscuro buraco
que desembocava no reino das trevas. Quando Gilgamesh saiu das águas e viu as
sinuosas pegadas do réptil na areia compreendeu, no instante, que a serpente
maligna tinha lhe roubado a planta florida da eterna juventude...
... E Gilgamesh chorou...
Abaixo o site de um ótimo texto sobre a
Epopeia de Gilgamesh, com relatos interessantes de como foram descobertos os
textos, em que contexto histórico e literário ele foi escrito e a história em
si (o poema) transcrito integralmente.
Alguns vídeos sobre o tema no youtube:
Vídeo 1:
Vídeo 2:
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