terça-feira, 3 de abril de 2012

Projeto de Pesquisa para o Ensino Médio Politécnico – 2012






Colégio Estadual 25 de Julho
Novo Hamburgo/RS









Projeto de Pesquisa para o Ensino Médio Politécnico – 2012



Tema Orientador:


Economia, Trabalho e Educação.













Novo Hamburgo,
2012.



I. Introdução

Desde o início do ano letivo de 2012, alunos e professores da rede estadual de educação do Rio Grande do Sul, estão diante de um novo modelo pedagógico, o Ensino Médio Politécnico, a ser implantado nas escolas de forma gradativa, começando pelos primeiros anos do Ensino Médio em 2012, incluindo o segundo ano em 2013 e, finalmente, o terceiro ano em 2014.
A Politecnia é um conceito de educação esboçado por Karl Marx no século XIX e desenvolvido no Brasil, nas últimas décadas, principalmente pelo pensador Dermeval Saviani[1]. Consiste em um projeto de educação articulado com um projeto de sociedade não excludente, que tenha o ser humano como centro e não apenas o mercado de trabalho. Um Ensino Médio que contemple a qualificação, a articulação com o mundo do trabalho e práticas produtivas, com responsabilidade e sustentabilidade e com qualidade cidadã.
            De um modo geral, podemos pontuar que a proposta tem como base a interdisciplinaridade e o trabalho como princípio educativo, embora não seja um ensino propriamente técnico, ele deve estar focado no mundo do trabalho, nas relações sociais, na formação científico-tecnológica e sócio-histórica para que, a partir da sua realidade, de seus interesses, de seus planos, metas e expectativas, o educando possa compreender a sociedade, os mecanismos e as mudanças que ocorrem e que podem ocorrer ao seu redor, estando ele não mais apenas como um expectador passivo, mas também como um ator ativo dos acontecimentos e assim, sinta-se parte do conhecimento trabalhado nas escolas e não apenas um desinteressado e sonolento aprendiz de matérias passadas pelo professor prontas e acabadas.
            Criticamente percebemos que o Ensino Médio Politécnico, do modo como é apresentado pela Secretaria de Educação do Estado, mostra-se bastante utópico, pois aponta lados diametralmente opostos, querendo unir dois pólos que se repelem, pois ao mesmo tempo em que fala de uma educação articulada com as tecnologias e o mercado de trabalho, refere também a uma escola humanizadora, que não tenha seu foco no mercado capitalista. Critica o ensino conteudista em detrimento de um protagonismo do educando, que deve construir uma identidade com o Ensino Médio, mas não aponta soluções práticas, como infra-estrutura escolar, ou meios mais efetivos do professor trabalhar conhecimento com os alunos sem lhes apresentar conteúdos. Como se fosse possível desenvolver conhecimento nas pessoas sem que elas tivessem contato com os tão, atualmente, discriminados conteúdos.
            Buscando superar estas contradições pedagógicas, apresentamos a seguir alguns dos principais tópicos do projeto governamental, da legislação federal pertinente ao assunto que, juntamente com o tema orientador “Economia, Trabalho e Educação” servirão de norte para as nossas pesquisas:
A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores[2].
1.      A consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
2.      A preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamentos posteriores;
3.      O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e desenvolvimento da autonomia intelectual e pensamento crítico;
4.      A compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria e prática, no ensino de cada disciplina[3].
O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas como preparação geral para o trabalho ou facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; na cultura como ampliação da formação cultural[4].
n  Articulação entre as áreas de conhecimento e seus componentes curriculares com as dimensões Ciência, Cultura, Tecnologia e Trabalho;
n  Incorporação dos fundamentos científicos as atividades profissionais que as sustentam;
  Contextualização - Antes de aprender algum oficio nos seus aspectos práticos e imediatos, é fundamental a mediação política para sua contextualização como fenômeno histórico e suas perspectivas futuras;
n  A apropriação e a construção de conhecimento embasa e promove a inserção social da cidadania;
n  O trabalho como ação dos seres humanos construindo sua sobrevivência, é responsável pela formação humana e pela constituição da sociedade;
n  Pelo trabalho – o homem produz conhecimento, desenvolve e consolida a concepção de mundo, conforma as consciências, viabiliza a convivência, transforma a natureza, constrói a sociedade e faz história;
n  O trabalho, como princípio educativo, implica em compreender a formação de dirigentes e trabalhadores, formas de organização e gestão da vida social e produtiva em cada época;
n  As formas tayloristas/fordistas como organização da sociedade, utilizam a pedagogia da memorização, da repetição, de conhecimentos fragmentados;
n  Se o saber fazer podia se aprender na prática, com pouca escolaridade, o trabalho intelectualizado demanda uma formação escolar sólida de qualidade, em especial para os trabalhadores para quem a escola é o único espaço possível de relação intencional com o conhecimento sistematizado;
n  O mundo do trabalho, em decorrência das novas tecnologias de base microeletrônica, amplia o desemprego, a precarização e a intensificação de trabalho;
n  Para a escola - um novo desafio: desenvolver consciências críticas capazes de compreender a nova realidade e organizar-se para construir a possibilidade histórica de emancipação humana;
n  O princípio educativo do trabalho retoma a concepção de Politecnia, compreendida como domínio intelectual da técnica;
n  O Ensino Médio Politécnico, não profissionaliza, mas está enraizado no mundo do trabalho e das relações sociais, promovendo a formação científico-tecnológica e sócio-histórica, pelo protagonismo do aluno;
n  Supõe novas formas de seleção e organização dos conteúdos a partir da prática social, contemplando o diálogo entre as áreas de conhecimento;
n   Supõe a primazia da qualidade da relação com o conhecimento, sobre a quantidade de conteúdos apropriados de forma mecânica;
n  A politecnia implica na integração dos conteúdos de formação geral e de formação profissional;
n  O ponto de partida para essa construção são os processos de trabalho objetos da formação;
n  Superar a lógica disciplinar e a superposição de conteúdos gerais e específicos, para que sejam empregadas novas formas de seleção e organização dos conhecimentos;
n  Disciplina: uma divisão didática do conhecimento que se caracteriza por ter objeto, linguagem e metodologia específicos. A fragmentação do conhecimento acompanha o preceito que o todo, dividido em partes, tem como objetivo facilitar a aprendizagem. O tratamento disciplinar do conhecimento, quando única estratégia de organização do conhecimento, tem se mostrado insuficiente para a solução de problemas reais e concretos;
n  O relacionamento das áreas de conhecimento e dos saberes para a resolução de problemas advém do resgate de visões epistemológicas e práticas de pesquisa que trabalham o objeto do conhecimento como totalidade, com interferência de múltiplos fatores, pressupostos estabelecidos a partir dos avanços científicos e tecnológicos contemporâneos;
n  A compreensão que os problemas não são resolvidos apenas à luz de uma única disciplina ou área do saber desmistifica a ideia, ainda predominante, da supremacia de uma área de conhecimento sobre outra;
n  A interdisciplinaridade se origina no diálogo das disciplinas;
n  A comunicação é instrumento de interação com o objetivo de desvelar a realidade;
n  A interdisciplinaridade é um processo que exige uma atitude de interesse em conhecer, um compromisso com o aluno e ousadia para tentar o novo em técnicas e procedimentos;
n  A interdisciplinaridade articula o estudo da realidade e produção de conhecimento com vistas à transformação;
n  Possibilidade de solução de problemas, pois carrega de significado o conhecimento para a mudança da realidade;
n  Viabiliza o estudo de temáticas transversalizadas, aliando teoria e prática, por meio de ações pedagógicas integradoras;
n  Tem como objetivo, numa visão dialética, integrar as áreas de conhecimento e o mundo do trabalho.

Interados sobre as intenções do modelo pedagógico, partimos agora para um esboço que delimite as questões, os problemas e as hipóteses que pretendemos levantar com a nossa pesquisa.
Podemos, com um recorte bastante abrangente, dizer que buscaremos, a princípio, uma análise teórica e empírica sobre a questão do emprego e da formação para o trabalho realmente existente, na perspectiva da Economia Política Crítica. Centrada no estudo das características e prioridades do capitalismo brasileiro atual (com um recorte espacial para o vale do Sinos), tal e como se manifestam nas políticas sociais, especialmente nas áreas de Educação e Formação Profissional. Exemplificando, essa última, no subsistema de Formação Profissional em Saúde Pública, cuja especificidade mais relevante consiste em responder a ética das necessidades humano-sociais, incompatível com a ética individualista do lucro privado, inerente ao império do mercado.
Ou ainda, como a lógica de mercado interage com políticas públicas educacionais e se reproduz dentro do espaço formal de socialização do conhecimento, descaracterizando assim, o verdadeiro “papel” da educação escolar, como transmissora de conhecimento e, então, fornecedora de instrumentos de luta, que os indivíduos necessitam para transformação de sua real condição de existência.
Mesmo diante da busca por uma educação mais voltada ao homem e à cidadania, precisamos estar atentos ao mundo do trabalho, suas alterações e possíveis articulações com a escola, para que possamos formar não apenas cidadãos conscientes e éticos, mas também profissionais competentes e com um futuro financeiro promissor, que lhes garanta um padrão de vida confortável. Este também é o papel da escola. Para tanto, teremos como maior desafio a construção de caminhos que apontem para uma economia solidária e sustentável e a averiguação de tal possibilidade, sendo preciso, portanto, que sejamos conhecedores da economia da nossa região (vale do Sinos), no passado e no presente, além de suas projeções futuras. Que estejamos a par das principais e mais promissoras profissões da região e também como agir nesta carreira para tornar o mundo mais humanizado e menos destrutivo economicamente.
Enfim, para exemplificar, cito algumas disciplinas curriculares e algumas temáticas que podem ser usadas no trabalho em sala de aula e que sirvam de suporte à pesquisa.
FILOSOFIA: a ética das profissões e o choque com o mundo e a realidade econômica, como no caso da saúde, citado acima, ou de um advogado que defende, por exemplo, uma empresa culpada por um desastre ambiental.
HISTÓRIA: Partindo das mudanças ocorridas no princípio das civilizações (sedentarização, revolução agrícola, organização político-social, artesanato etc.) comparar ao processo evolutivo da economia da região, partindo do modo de subsistência, passando pela agricultura familiar, o artesanato, o comércio e, por fim, a industrialização e seu impacto no modo de vida das populações locais, podendo também, nos seminários temáticos, partirmos para uma análise dos possíveis nichos de uma economia solidária e rentável regional.
   

II. Objetivos
  
         ·            Relacionar os conhecimentos formais, universalmente sistematizados pela humanidade (teoria), à prática, por meio da resolução de problemas da realidade (conhecimento social), promovendo o diálogo entre os dois tipos de conhecimento;
         ·            Promover a interdisciplinaridade e articular os diferentes conhecimentos para que o aluno seja capaz de transformar a realidade e, com isso, resolver problemas. Para que, desta forma, ele possa ter uma verdadeira apropriação de sua aprendizagem e compreensão dos conteúdos das disciplinas;
         ·            Buscar a inserção social e a cidadania através de uma proposta curricular construída na realidade do educando, que aplique o conhecimento proporcionando aprendizagem;
         ·            Fazer com que o professor perceba também, como o seu componente curricular se relaciona com os meios de produção ou com outros componentes curriculares;
         ·             Que os educadores instiguem os educandos a observar sua própria realidade sob outros ângulos e à luz do conhecimento sistematizado o que certamente produzirá novos conhecimentos e dará significados distintos a práticas da sua comunidade.

III. Metodologia
  
            (A ser mais bem definida por cada área de conhecimento)

1.      Leitura de fontes secundárias;
2.      Pesquisa em fontes primárias (jornais, documentos oficiais etc.);
3.      Entrevistas;
4.      Questionários;
5.      Vivências;
6.      Saídas de campo;
7.      História oral;
8.      Estudos de casos;
9.      O referencial teórico específico de cada disciplina e/ou área de conhecimento, vai ficar a critério de cada uma destas áreas conforme a escolha do subtema ainda em análise.


IV. Cronograma

Março/abril: Escolha e definição dos subtemas a serem trabalhados por cada área do conhecimento e os eixos temáticos transversais que irão tangenciar as pesquisas. Definição e montagem dos grupos através das fichas de inscrições.

Maio: Levantamento da bibliografia e das fontes a serem consultadas. Definição da metodologia a ser aplicada em cada pesquisa específica: entrevistas, questionários, vivências, testemunhos, histórias orais, estudo de casos, saídas de campo (e diários de campo) etc.

Junho, julho, agosto, setembro: Desenvolvimentos das pesquisas, recolha dos materiais (entrevistas, questionários, testemunhos etc.), seminários temáticos e montagem dos trabalhos para revisão final.

Outubro: Revisão e conclusão dos trabalhos.

Novembro: Apresentação dos resultados (trabalhos finais).

Dezembro: Seminários temáticos sobre as experiências e as impressões que os trabalhos causaram em todos.
  

V. Referências
  
BRASIL, Lei nº 9.394/1996.
BRASIL, Lei 10172 – PNE – Pág 25 – Diretrizes para o Ensino Médio BRASIL.
CNE/CEB, Resolução nº 04/2010.
FRIGOTTO, G. Trabalho como princípio educativo: por uma superação das ambigüidades. Boletim Técnico do Senac, Ano 11, 3: 175-192, set.-dez., 1985.
KUENZER, A. Z. O trabalho como princípio educativo. Cadernos de Pesquisa, 68: 21-28, 1989.
KUENZER, A. Z. Ensino médio: uma nova concepção unificadora de ciência, técnica e ensino. In: GARCIA, W. &.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 1999.
RODRIGUES, J. A Educação Politécnica no Brasil. Niterói: EdUFF, 1998.
ROCHA, Silvio J. Reflexão Sobre a Investigação Sócio-Antropológica na Escola Cidadã. SMED, Paixão de Aprender, nº 10. Porto Alegre, março 1997.
SAVIANI, Dermeval. Da Nova LDB ao Novo Plano Nacional de Educação-Por Uma Outra Política Educacional, Campinas, Autores Associados, 1998.
SAVIANI, Dermeval. Sobre a Concepção de Politécnica. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 1989.
SEDUC. Proposta Pedagógica Para o Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio. Porto Alegre, RS, setembro 2011.
SEDUC. Regimento Referência das Escolas de Ensino Médio Politécnico da Rede Estadual. Porto Alegre, RS, janeiro 2011.







[1] RODRIGUES, J. A Educação Politécnica no Brasil. Niterói: Ed.UFF, 1998.
[2] BRASIL, Lei nº 9.394/1996, Art. 22.
[3] BRASIL, Lei nº 9.394/1996, Art. 35.
[4] CNE/CEB, Resolução nº 04/2010, Art. 26, § 1º.

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