Colégio Estadual 25 de Julho
Novo Hamburgo/RS
Projeto de Pesquisa para o Ensino Médio Politécnico
– 2012
Tema Orientador:
Economia,
Trabalho e Educação.
Novo Hamburgo,
2012.
I. Introdução
Desde o início
do ano letivo de 2012, alunos e professores da rede estadual de educação do Rio
Grande do Sul, estão diante de um novo modelo pedagógico, o Ensino Médio
Politécnico, a ser implantado nas escolas de forma gradativa, começando pelos
primeiros anos do Ensino Médio em 2012, incluindo o segundo ano em 2013 e,
finalmente, o terceiro ano em 2014.
A
Politecnia é um conceito de educação esboçado por Karl Marx no século XIX e
desenvolvido no Brasil, nas últimas décadas, principalmente pelo pensador
Dermeval Saviani[1].
Consiste em um projeto de educação articulado com um projeto de sociedade não
excludente, que tenha o ser humano como centro e não apenas o mercado de
trabalho. Um Ensino Médio que contemple a qualificação, a articulação com o
mundo do trabalho e práticas produtivas, com responsabilidade e
sustentabilidade e com qualidade cidadã.
De um modo geral, podemos pontuar que a proposta tem como
base a interdisciplinaridade e o trabalho como princípio educativo, embora não
seja um ensino propriamente técnico, ele deve estar focado no mundo do
trabalho, nas relações sociais, na formação científico-tecnológica e
sócio-histórica para que, a partir da sua realidade, de seus interesses, de
seus planos, metas e expectativas, o educando possa compreender a sociedade, os
mecanismos e as mudanças que ocorrem e que podem ocorrer ao seu redor, estando
ele não mais apenas como um expectador passivo, mas também como um ator ativo
dos acontecimentos e assim, sinta-se parte do conhecimento trabalhado nas
escolas e não apenas um desinteressado e sonolento aprendiz de matérias
passadas pelo professor prontas e acabadas.
Criticamente percebemos que o Ensino Médio Politécnico,
do modo como é apresentado pela Secretaria de Educação do Estado, mostra-se
bastante utópico, pois aponta lados diametralmente opostos, querendo unir dois
pólos que se repelem, pois ao mesmo tempo em que fala de uma educação articulada
com as tecnologias e o mercado de trabalho, refere também a uma escola
humanizadora, que não tenha seu foco no mercado capitalista. Critica o ensino
conteudista em detrimento de um protagonismo do educando, que deve construir
uma identidade com o Ensino Médio, mas não aponta soluções práticas, como
infra-estrutura escolar, ou meios mais efetivos do professor trabalhar
conhecimento com os alunos sem lhes apresentar conteúdos. Como se fosse
possível desenvolver conhecimento nas pessoas sem que elas tivessem contato com
os tão, atualmente, discriminados conteúdos.
Buscando superar estas contradições pedagógicas,
apresentamos a seguir alguns dos principais tópicos do projeto governamental, da
legislação federal pertinente ao assunto que, juntamente com o tema orientador
“Economia, Trabalho e Educação” servirão de norte para as nossas pesquisas:
A educação básica tem
por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para
progredir no trabalho e em estudos posteriores[2].
1.
A consolidação e aprofundamento dos
conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento
de estudos;
2.
A preparação básica para o trabalho e a
cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se
adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamentos
posteriores;
3.
O aprimoramento do educando como pessoa
humana, incluindo a formação ética e desenvolvimento da autonomia intelectual e
pensamento crítico;
4.
A compreensão dos fundamentos
científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria e
prática, no ensino de cada disciplina[3].
O Ensino Médio deve ter uma base
unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas como preparação
geral para o trabalho ou facultativamente, para profissões técnicas; na ciência
e na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; na cultura como
ampliação da formação cultural[4].
n Articulação
entre as áreas de conhecimento e seus componentes curriculares com as dimensões
Ciência, Cultura, Tecnologia e Trabalho;
n Incorporação
dos fundamentos científicos as atividades profissionais que as sustentam;
n Contextualização
- Antes de aprender algum oficio nos seus aspectos práticos e imediatos, é
fundamental a mediação política para sua contextualização como fenômeno histórico
e suas perspectivas futuras;
n A
apropriação e a construção de conhecimento embasa e promove a inserção social
da cidadania;
n O
trabalho como ação dos seres humanos construindo sua sobrevivência, é
responsável pela formação humana e pela constituição da sociedade;
n Pelo
trabalho – o homem produz conhecimento, desenvolve e consolida a concepção de
mundo, conforma as consciências, viabiliza a convivência, transforma a
natureza, constrói a sociedade e faz história;
n O
trabalho, como princípio educativo, implica em compreender a formação de
dirigentes e trabalhadores, formas de organização e gestão da vida social e
produtiva em cada época;
n As
formas tayloristas/fordistas como organização da sociedade, utilizam a
pedagogia da memorização, da repetição, de conhecimentos fragmentados;
n Se
o saber fazer podia se aprender na prática, com pouca escolaridade, o trabalho
intelectualizado demanda uma formação escolar sólida de qualidade, em especial
para os trabalhadores para quem a escola é o único espaço possível de relação
intencional com o conhecimento sistematizado;
n O
mundo do trabalho, em decorrência das novas tecnologias de base microeletrônica,
amplia o desemprego, a precarização e a intensificação de trabalho;
n Para
a escola - um novo desafio: desenvolver consciências críticas capazes de
compreender a nova realidade e organizar-se para construir a possibilidade
histórica de emancipação humana;
n O
princípio educativo do trabalho retoma a concepção de Politecnia, compreendida
como domínio intelectual da técnica;
n O
Ensino Médio Politécnico, não profissionaliza, mas está enraizado no mundo do
trabalho e das relações sociais, promovendo a formação científico-tecnológica e
sócio-histórica, pelo protagonismo do aluno;
n Supõe
novas formas de seleção e organização dos conteúdos a partir da prática social,
contemplando o diálogo entre as áreas de conhecimento;
n Supõe a primazia da qualidade da relação com o
conhecimento, sobre a quantidade de conteúdos apropriados de forma mecânica;
n A
politecnia implica na integração dos conteúdos de formação geral e de formação
profissional;
n O
ponto de partida para essa construção são os processos de trabalho objetos da
formação;
n Superar
a lógica disciplinar e a superposição de conteúdos gerais e específicos, para
que sejam empregadas novas formas de seleção e organização dos conhecimentos;
n Disciplina:
uma divisão didática do conhecimento que se caracteriza
por ter objeto, linguagem e metodologia específicos. A fragmentação do
conhecimento acompanha o preceito que o todo, dividido em partes, tem como
objetivo facilitar a aprendizagem. O tratamento disciplinar do conhecimento,
quando única estratégia de organização do conhecimento, tem se mostrado
insuficiente para a solução de problemas reais e concretos;
n O
relacionamento das áreas de conhecimento e dos saberes para a resolução de
problemas advém do resgate de visões epistemológicas e práticas de pesquisa que
trabalham o objeto do conhecimento como totalidade, com interferência de
múltiplos fatores, pressupostos estabelecidos a partir dos avanços científicos
e tecnológicos contemporâneos;
n A
compreensão que os problemas não são resolvidos apenas à luz de uma única
disciplina ou área do saber desmistifica a ideia, ainda predominante, da
supremacia de uma área de conhecimento sobre outra;
n A
interdisciplinaridade se origina no diálogo das disciplinas;
n A
comunicação é instrumento de interação com o objetivo de desvelar a realidade;
n A
interdisciplinaridade é um processo que exige uma atitude de interesse em
conhecer, um compromisso com o aluno e ousadia para tentar o novo em técnicas e
procedimentos;
n A
interdisciplinaridade articula o estudo da realidade e produção de conhecimento
com vistas à transformação;
n Possibilidade
de solução de problemas, pois carrega de significado o conhecimento para a
mudança da realidade;
n Viabiliza
o estudo de temáticas transversalizadas, aliando teoria e prática, por meio de
ações pedagógicas integradoras;
n Tem
como objetivo, numa visão dialética, integrar as áreas de conhecimento e o
mundo do trabalho.
Interados sobre as
intenções do modelo pedagógico, partimos agora para um esboço que delimite as
questões, os problemas e as hipóteses que pretendemos levantar com a nossa
pesquisa.
Podemos, com um recorte
bastante abrangente, dizer que buscaremos, a princípio, uma análise teórica e
empírica sobre a questão do emprego e da formação para o trabalho realmente
existente, na perspectiva da Economia Política Crítica. Centrada no estudo das
características e prioridades do capitalismo brasileiro atual (com um recorte
espacial para o vale do Sinos), tal e como se manifestam nas políticas sociais,
especialmente nas áreas de Educação e Formação Profissional. Exemplificando,
essa última, no subsistema de Formação Profissional em Saúde Pública, cuja especificidade
mais relevante consiste em responder a ética das necessidades humano-sociais,
incompatível com a ética individualista do lucro privado, inerente ao império
do mercado.
Ou ainda, como a lógica
de mercado interage com políticas públicas educacionais e se reproduz dentro do
espaço formal de socialização do conhecimento, descaracterizando assim, o
verdadeiro “papel” da educação escolar, como transmissora de conhecimento e,
então, fornecedora de instrumentos de luta, que os indivíduos necessitam para
transformação de sua real condição de existência.
Mesmo diante da busca
por uma educação mais voltada ao homem e à cidadania, precisamos estar atentos
ao mundo do trabalho, suas alterações e possíveis articulações com a escola,
para que possamos formar não apenas cidadãos conscientes e éticos, mas também profissionais
competentes e com um futuro financeiro promissor, que lhes garanta um padrão de
vida confortável. Este também é o papel da escola. Para tanto, teremos como
maior desafio a construção de caminhos que apontem para uma economia solidária
e sustentável e a averiguação de tal possibilidade, sendo preciso, portanto,
que sejamos conhecedores da economia da nossa região (vale do Sinos), no
passado e no presente, além de suas projeções futuras. Que estejamos a par das
principais e mais promissoras profissões da região e também como agir nesta
carreira para tornar o mundo mais humanizado e menos destrutivo economicamente.
Enfim, para
exemplificar, cito algumas disciplinas curriculares e algumas temáticas que
podem ser usadas no trabalho em sala de aula e que sirvam de suporte à
pesquisa.
FILOSOFIA: a ética das
profissões e o choque com o mundo e a realidade econômica, como no caso da
saúde, citado acima, ou de um advogado que defende, por exemplo, uma empresa
culpada por um desastre ambiental.
HISTÓRIA: Partindo das
mudanças ocorridas no princípio das civilizações (sedentarização, revolução
agrícola, organização político-social, artesanato etc.) comparar ao processo
evolutivo da economia da região, partindo do modo de subsistência, passando
pela agricultura familiar, o artesanato, o comércio e, por fim, a
industrialização e seu impacto no modo de vida das populações locais, podendo
também, nos seminários temáticos, partirmos para uma análise dos possíveis
nichos de uma economia solidária e rentável regional.
II. Objetivos
·
Relacionar os conhecimentos formais,
universalmente sistematizados pela humanidade (teoria), à prática, por meio da
resolução de problemas da realidade (conhecimento social), promovendo o diálogo
entre os dois tipos de conhecimento;
·
Promover a interdisciplinaridade e articular
os diferentes conhecimentos para que o aluno seja capaz de transformar a
realidade e, com isso, resolver problemas. Para que, desta forma, ele possa ter
uma verdadeira apropriação de sua aprendizagem e compreensão dos conteúdos das
disciplinas;
·
Buscar a inserção social e a cidadania
através de uma proposta curricular construída na realidade do educando, que
aplique o conhecimento proporcionando aprendizagem;
·
Fazer com que o professor perceba
também, como o seu componente curricular se relaciona com os meios de produção
ou com outros componentes curriculares;
·
Que
os educadores instiguem os educandos a observar sua própria realidade sob
outros ângulos e à luz do conhecimento sistematizado o que certamente produzirá
novos conhecimentos e dará significados distintos a práticas da sua comunidade.
III. Metodologia
(A
ser mais bem definida por cada área de conhecimento)
1.
Leitura de fontes secundárias;
2.
Pesquisa em fontes primárias (jornais,
documentos oficiais etc.);
3.
Entrevistas;
4.
Questionários;
5.
Vivências;
6.
Saídas de campo;
7.
História oral;
8.
Estudos de casos;
9.
O referencial teórico específico de cada
disciplina e/ou área de conhecimento, vai ficar a critério de cada uma destas
áreas conforme a escolha do subtema ainda em análise.
IV. Cronograma
Março/abril: Escolha e definição dos
subtemas a serem trabalhados por cada área do conhecimento e os eixos temáticos
transversais que irão tangenciar as pesquisas. Definição e montagem dos grupos
através das fichas de inscrições.
Maio: Levantamento da bibliografia e das
fontes a serem consultadas. Definição da metodologia a ser aplicada em cada
pesquisa específica: entrevistas, questionários, vivências, testemunhos,
histórias orais, estudo de casos, saídas de campo (e diários de campo) etc.
Junho, julho, agosto, setembro:
Desenvolvimentos das pesquisas, recolha dos materiais (entrevistas,
questionários, testemunhos etc.), seminários temáticos e montagem dos trabalhos
para revisão final.
Outubro: Revisão e conclusão dos
trabalhos.
Novembro: Apresentação dos resultados
(trabalhos finais).
Dezembro: Seminários temáticos sobre as
experiências e as impressões que os trabalhos causaram em todos.
V. Referências
BRASIL, Lei nº 9.394/1996.
BRASIL, Lei 10172 – PNE – Pág 25 –
Diretrizes para o Ensino Médio BRASIL.
CNE/CEB, Resolução nº 04/2010.
FRIGOTTO, G. Trabalho como princípio educativo: por uma superação das ambigüidades.
Boletim Técnico do Senac, Ano 11, 3: 175-192, set.-dez., 1985.
KUENZER, A. Z. O trabalho como princípio
educativo. Cadernos de Pesquisa, 68: 21-28, 1989.
KUENZER, A. Z. Ensino médio: uma nova concepção unificadora de ciência, técnica e
ensino. In: GARCIA, W. &.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros
Curriculares Nacionais: Ensino Médio: Linguagens, códigos e
suas tecnologias. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica,
1999.
RODRIGUES, J. A Educação Politécnica no Brasil. Niterói: EdUFF, 1998.
ROCHA, Silvio J. Reflexão Sobre a
Investigação Sócio-Antropológica na Escola Cidadã. SMED, Paixão de Aprender,
nº 10. Porto Alegre, março 1997.
SAVIANI, Dermeval. Da Nova LDB ao
Novo Plano Nacional de Educação-Por Uma Outra Política Educacional,
Campinas, Autores Associados, 1998.
SAVIANI, Dermeval. Sobre a Concepção de Politécnica. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 1989.
SEDUC. Proposta Pedagógica Para o
Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio.
Porto Alegre, RS, setembro 2011.
SEDUC. Regimento Referência das
Escolas de Ensino Médio Politécnico da Rede Estadual. Porto Alegre, RS,
janeiro 2011.
Site: www.ppgcts.ufscar.br/selecao-1/selecao-2012/modelo-de-projeto
em 03/04/2012.
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